Saturday, September 09, 2006

vida ainda

still life
"que também em nós nunca morra a coragem de recomeçar a cada dia nossa luta por tudo aquilo em que acreditamos" (y.z. 1972)

...agora, depois de 'tanto tempo'... e, observando as coisas com uma clareza que só essa distância poderia proporcionar, ...já não tenho mais nem aquela certeza nem aquela confiança desmedida que meu coração me permitia depositar em algo tão impalpável, tão etéreo, tão imaterial e, tão improvável, ...não, ...não dá ...não dá mais, ...pois é, ...e é simples assim mesmo, não dá mais pra "me prender" em coisas feitas de éter, bits, bytes e de eletricidade tão alheia ao meu corpo. ...e isso em tudo é muito semelhante às questões da fotografia e da arte digital, que têm sido tão discutidas aqui nesse atelier... esse rumo que as coisas tomaram, fazendo com que as coisas tenham agora o éther (e a fragilidade desse suporte é impressionante) como matéria da expressão e suporte da produção, ao contrário do que ocorria antes... quando coisas bem materiais, como por exmplo sais de prata, gelatina e papel (e as tantas variações e experimentos feitos para resultar em alguma matéria semelhante) eram os suportes do trabalho dos fotógrafos... e, as tintas, pigmentos e aglutinantes transferidos para papéis, tecidos, madeiras ou outras peles eram os suportes das idéias e expressões dos artistas...
...eu era um garoto quando ilustrei essa frase em epígrafe para um cartão de natal da minha família na época da ditadura militar... a imagem que fiz era a de uma samambaia nascendo por entre as frestas de um muro, (talvez ainda exista ao menos alguma cópia em algum lugar, o original deve estar irremediavelmente perdido) ...mas me lembro que era um desenho um tanto "duro" (desenho de moleque querendo "acertar" na representação de uma imagem real que muito me havia impressionado) ...e era tudo mais simbólico do que realista, sendo o muro então representado por alguns blocos assentados como tijolos em uma parede e a samambaia um tanto rígida e irreal mas que brotava com muito vigor daquele muro. (tudo era cinza, preto e branco e só a planta tinha cor, bem verde, pintado à mão, cartão por cartão). (...) agora, mais de trinta anos depois, me deparei com a "mesma" imagem... não pude resistir e tive que registrar essa outra "mesma" imagem mas, nesse outro agora, as ditaduras são outras e, a rigidez da representação vem dessa frieza digital da minha ferramenta de desenho... é... o tempo passa, as coisas mudam. ...é, e ao mesmo tempo, num tempo diferente, o mundo é o mesmo de sempre...
...mas isso não é ruim, né não, nem um pouco, e pode ser muito bom e, até mesmo libertador, ou ao menos, pode ajudar a lembrar a localização da liberdade mais incorruptível... e, quiçá até nos faça usufruí-la sem receios...

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